25 de ago. de 2007

Mensalão

Tudo o que acerca o chamado "mensalão" é, no mínimo, revelador e intrigante.

Insistem em utilizar um nome exageradamente inapropriado, que indica uma continuidade de pagamentos mensais de R$ 30.000,00 em troca de apoio político, distribuído em "malas" de dinheiro, como acusou Bob Jeff, para algo que não é contínuo, nem mensal, distribuído em "malas" que apenas Bob Jeff viu e que não deixaram rastros em lugar algum.

A denúncia do PGR, cuja aceitação está em discussão no STF, é ainda mais intrigante, insistindo em acusações genéricas, não individualizadas. Pouco técnica, parece mais um manifesto do que um libelo. Acusa, mas não diz exatamente do que, em boa parte.

A cobertura do julgamento, com direito a violação de correspondência de juízes e acusações de grampos, a preparar o caminho para ilações quando da quase certa rejeição de boa parte da denúncia por inépcia, comentários políticos travestidos de técnicos, a conclusão leiga e a priori de que a rejeição da denúncia será impunidade, é reveladora.

Revela que a mídia já julgou e condenou. E cabe aos Ministros do STF assinar embaixo. As garantias individuais, o devido processo, a inviolabilidade da correspondência, nada disso importa. A imprensa tem certeza absoluta e não cabe aos Ministros afrontar essa sentença soberana e decidir de outra forma.

"A voz da imprensa é a voz de Deus", pensa ela.

A mesma certeza que a imprensa tinha de que o acidente dos aviões da TAM e da Gol foram culpa de Lula. E que a chamada "monstra da mamadeira" era efetivamente culpada - o que custou a ela vários ferimentos, a surdez parcial, a violação de seu corpo e de seu coração. A mesma certeza que tinham no caso da Escola Base.

E em tantos outros casos, incluindo, mas não se limitando, a manipulação de imagens, como no caso da infame foto de Brizola, que custou à Globo um direito de resposta, a edição maliciosa de debates políticos, a repercussão de factóides, o "teste de hipóteses", etc.

O caso "mensalão" revela, também, a natureza das pessoas. Muitos acreditam tão piamente na imprensa que transformam suas conclusões, suas acusações, em verdadeiros dogmas religiosos. A mera sugestão de que a acusação deve ser provada, a mais leve dúvida acerca da veracidade escritural e sagrada das palavras dessa imprensa é suficiente para levantar acusações de desonestidade.

Desonestidade? Não, está mais para heresia mesmo, tal a veemência das acusações levantadas contra quem não confia absolutamente na imprensa. Alguns chegam ao ponto de dizer que aceitar a existência do mensalão e pré condenar os acusados é sinal de honestidade intelectual.

Outros vão além, e acusam aqueles que demandam dos acusadoes que provem suas acusações de "defender a impunidade".

Muitos, infelizmente, acreditam quando a imprensa diz que a sua voz - a da imprensa - é a voz de Deus. Literalmente.

Fosse eu Ministro do STF, rejeitaria grande parte da denúncia do "mensalão" por inépcia. Não é possível que alguém seja acusado de atos genéricos e não especificados. De "matar pessoa incerta, em lugar e data não sabidos e de forma desconhecida". Isso não é denúncia, é acusação política.

Mas isso não importa à santa imprensa e aos seus fiéis. Para eles, os fins justificam os meios e o que importa é condenar Dirceu e compania e, por tabela, todo o PT e, principalmente, Lula. Se tiverem que invadir a privacidade e a correspondência de Ministros do STF, se tiverem que repetir mentiras à exaustão, que seja.

Tudo o que importa é sua agenda política - que também é a agenda de Deus, para seus seguidores fundamentalistas.

Finalmente, o caso "mensalão" revela - mais uma vez - o surgimento de uma nova religião, o da imprensa.

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